Até meados dos anos 40, os diamantes não eram eternos. Esta frase faz referência à campanha "Um diamante é para sempre", criada pela agência de publicidade N.W. Ayer, em 1947, a pedido da De Beers, uma empresa envolvida na mineração e comércio de diamantes.
Naquela época, anéis de diamantes raramente eram oferecidos como anéis de noivado. A campanha relacionou a pedra a um significado mais amplo e fez com que a demanda por diamantes crescesse. Assim, o diamante que era uma entre tantas outras pedras, virou um objeto de desejo. São muitas as histórias de pessoas que empenharam meses de salário para investir em um anel de noivado, já que a campanha foi tão efetiva a ponto de relacionar o diamante ao amor verdadeiro (onde já se viu pedir alguém em casamento com um anel que não ostente um diamante!).
E nesse momento você questiona: estou no blog da KOSTAL, uma multinacional do setor de autopeças. Por que estamos falando de diamantes?
Porque o carro elétrico atualmente ocupa a posição de objeto de desejo e custa caro, muito caro. Se nos anos 40 havia dezenas de pedras preciosas e o diamante conquistou uma posição de destaque, será que em 2022 veremos os elétricos superarem os motores a combustão e assumirem a liderança nas garagens espalhadas pelo mundo?
Além de um slogan genial, a campanha com os diamantes envolveu artistas famosos na época. Havia filmes onde os diamantes eram protagonistas e, fora das telas, atores e atrizes ostentavam diferentes joias feitas com a pedra. De tanto martelar a cabeça das pessoas, o diamante alcançou a percepção como um "must have", expressão em inglês que é usada quando estamos diante de algo que TEMOS QUE TER, não importa o custo.
O carro elétrico segue, em parte, os mesmos passos. A marca mais famosa tem como garoto propaganda Elon Musk, o bilionário controverso que é dono da Tesla, o carro elétrico mais desejado que é vendido no Brasil com valores "a partir de" 599 mil.
Deixando a Tesla de lado, a Porsche tem seus híbridos (carros que combinam motores a combustão e elétricos) e o Taycan, um elétrico puro. A Volvo traz um portfólio de opções, também com híbridos e puros. O mesmo acontece com outras marcas dos sonhos. Mas isso não populariza o carro elétrico, afinal, qualquer carro que custe mais de 400 mil não é exatamente um carro popular.
Então temos a Renault, que trouxe o Kwid elétrico. Agora sim! Um elétrico popular! Que custa 143 mil reais. Cento. e. quarenta. e. três. mil. Atualmente este é o carro elétrico mais acessível à venda no país.
Com toda essa introdução, chegamos à questão: o carro elétrico vai se popularizar? Podemos dizer que esta opção já é popular na Europa, Estados Unidos e China? E no Brasil, qual é o futuro dos elétricos?
CAMPANHAS
Há pouco mais de 10 anos o então presidente, Barack Obama, anunciou incentivos de bilhões de dólares para mudanças "verdes" na mobilidade. Os carros elétricos ganharam as vitrines. Quem comprasse um veículo elétrico ainda levava uma ajuda de USD 7,5 mil.
Portugal e Espanha seguem a mesma linha e dão incentivos para quem comprar, contribuindo com até 7.000 euros na hora de pagar a conta. Na Alemanha o incentivo chega a 9.000 euros, o que faz com que opções baratas - o modelo Zoe, da Renault - saia "de graça" em algumas situações.
A China também ofereceu subsídios para a aquisição de elétricos puros e híbridos plug-in, mas este carinho deve ser encerrado no fim de 2022, uma vez que as vendas aumentaram de forma consistente com o apoio governamental, atingindo a meta proposta.
No Brasil ainda não há ajuda no radar. Em tempos de eleição, faz muito mais sentido oferecer assistência aos mais pobres do que ajudar os mais ricos pagarem uma conta que (ainda) não figura entre as mais importantes. Mas o futuro pode trazer novidades, a exemplo do que acontece no resto do mundo.
VANTAGEM OU MARKETING?
Com o litro da gasolina custando um bilhão, colocar um elétrico na garagem parece um movimento sensato. Além disso, pense no meio ambiente: você para de liberar CO2 enquanto roda por aí e deixa o planeta e a consciência limpos! Mas será que esta equação é tão simples assim? Vamos voltar ao Renault Kwid para brincar com os números...
Um Kwid a combustão custa R$63.000 em valores redondos. Um elétrico, custa R$80.000 a mais. A diferença pagaria 153.000 kms rodados com este modelo, se considerarmos a gasolina a R$ 8,00/L e o consumo urbano de 15,3 Km/L, anunciado pela montadora. Considerando que um motorista roda, em média, 15.000Km por ano, estamos falando que o dono de um Kwid a combustão poderia rodar por 10 anos até chegar no preço de um Kwid elétrico (sem contar quanto o dono do elétrico gastaria para recarregar a bateria).
Lógico que a conta não é tão simples. É preciso considerar o custo de manutenção e a desvalorização do modelo na hora da revenda, entre outros fatores.
O aumento constante do preço dos combustíveis e futuros incentivos à compra de elétricos podem mudar um pouco esta conta, mesmo assim, parece óbvio que a escolha por um carro elétrico vai pesar muito mais na carteira, se comparada à compra de um carro a combustão.
MUDANÇA DE POSTURA
A decisão por um elétrico não passa somente pelo bolso. O grande argumento parece ser a proteção ao meio-ambiente, fazendo com que donos de elétricos tenham um discurso mais engajado. Para muitos, a "preocupação verde" ainda não passa de modinha, mas o fato é que adotar uma postura mais saudável é fundamental para reverter a crise climática que já vivemos (e que tende a piorar). Sob esta ótica, ter um elétrico é somente uma questão de tempo... os motores a combustão têm data para morrer.
No meio do século passado a Volvo inventou uma coisa estranha: o cinto de segurança. Ninguém pensava nisso na época. Campanhas bem elaboradas, estatísticas de acidentes automobilísticos e novas leis fizeram com que o cinto fizesse parte da nossa rotina de forma quase imperceptível. Hoje, somente irresponsáveis renunciam ao recurso.
Este é um exemplo que mostra que quando a indústria e a sociedade aceitam uma mudança, ela é implementada e se torna natural - foi assim com o cinto de segurança e com os retrovisores, o brake-light (a terceira luz de freio) e os apoios de cabeça. Vai ser assim com os elétricos. Da mesma forma que você usa estes recursos sem pensar nos dias de hoje, no futuro, vai optar por um elétrico. E se você precisar de uma ajudinha para mudar sua postura, poderá contar com leis que restringirão o uso de motores a combustão e a decisão onipresente da indústria de fabricar apenas elétricos a partir dos próximos anos.
OS ELÉTRICOS SERÃO POPULARES?
Sim. Não haverá outra opção. Os motores a combustão não serão mais produzidos e motores alternativos, como por exemplo, o motor a hidrogênio, perderão para os elétricos no quesito escala.
Com o ganho de escala, o custo de um elétrico será mais acessível, embora não vá ser considerado “barato”. Nesse aspecto, vale lembrar que um carro popular do passado é diferente de popular de hoje: os modelos atuais são proporcionalmente mais caros.
Com o tempo, os carros a combustão serão raros, difíceis de comprar e de manter e malvistos pela sociedade. Dentro de algumas décadas, os elétricos reinarão.
Quem sabe, no fim das contas, poderemos dizer que “Um elétrico é para sempre”.